Esquecemos a Mata Atlântica

A Mata Atlântica foi a primeira vegetação natural a ser explorada pelos colonizadores. As causas do desmatamento no bioma são diversas e refletem diferentes pressões econômicas ao longo dos últimos séculos. O primeiro ciclo histórico relaciona-se com o pau-brasil, cana-de-açucar, gado, ouro e café (YOUNG, 2005). O pau-brasil (Caelsalpinia echinata) foi o primeiro produto de interesse dos portugueses, chegando a extração a representar algo em torno de 2 milhões nos primeiros 100 anos de exploração (YOUNG 2005). Essa intensidade levou o pau-brasil a se tornar raro, até que em 1605 a Coroa Portuguesa começou a investir na proteção de florestas onde ocorria intensa extração.
O ciclo da cana-de-açucar, uma espécie exótica, exerceu pressão distinta, pois a sua produção implicava no desmatamento em áreas ferteis, principalmente no nordeste brasileiro, conduzindo ao longo dos cinco séculos regiões ao extremo da perda e fragmentação da mata atlântica, como os estados de Alagoas e Pernambuco. Neste, há apenas 5% de sua cobertura original (GALINDO-LEAL & CÂMARA 2005).
O ciclo do café segue o padrão da cana-de-açucar, porém ocorre mais no sudeste do país. Depois temos o ciclo com o gado que alternava-se entre os altos e baixos das monoculturas ou mineração.
Hoje, após cinco séculos de exploração e ocupação, a área de domínio da Mata Atlântica, que, inicialmente, correspondia a 15% do território brasileiro, está reduzida a 1,06% desta área, totalizando cerca de 91,4 mil km². Isto significa que, agora, ocupa apenas 7,3% de sua área original (AGUSTINI, 2004). Essa situação, aliada a suas altas taxas de biodiversidade e endemismos, colocam a Mata Atlântica como uma das regiões prioritárias para a conservação, em nível global, os chamados hotspots (MYERS et al 2000). Atualmente no ranking de prioridades o bioma ocupa o 3° lugar (CONSERVATION INTERNATIONAL 2005).
Segundo a SOS Mata Atlântica e INPE (2001), nas últimas três décadas 11.650Km² de florestas foram perdidos, sendo que nos últimos 15 anos esse processo foi mais intenso (cerca de 284km²). Como resultado, o quadro atual de conservação da mata atlântica brasileira é assustador. Segundo Tabarelli et al 2003, a maioria das espécies oficialmente ameaçadas de extinção no Brasil habitam a Mata Atlântica.
Segundo a ultima revisão da lista da fauna brasileira, cerca de 15 espécies de anfíbios foram agrupadas nas categorias de AMEAÇADOS e uma espécie foi considerada EXTINTA, todas da Mata Atlântica (Silvano & Segalla, 2005). Como um todo, o status dessas espéicies foram apontados em decorrência do estado de perda de habitat, fragmentação e redução da qualidade do habitat, diretamente relacionado aos dois primeiros fatores.
No Brasil, a Mata Atlântica é o segundo maior detentor de biodiversidade de mamíferos, atrás apenas da Amazônia. (Costa et al 2005).

REFERENCIAS
CÂMARA, I. G. Breve história da conservação da Mata Atlântica. Em: Galindo-Leal, C. & I. G. Câmara 2005. Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica; Belo Horizonte: Conservação Internacional. 472p.
CHIARELLO, A.G. 2000. Density and population size of mammals in remnants of Brazilian Atlantic forest. Conservation Biology 14: 1649-1657.
CORRÊA, F. A reserva da biosfera da Mata Atlântica. Roteiro para o entendimento de seus objetivos e seu sistema de gestão. Caderno n° 2 RBMT. 49 pp. 1996.
CONSERVATION INTERNATIONAL. Hotspots revisitados: as regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta. 18pp. 2005
COSTA, LEONORA P., LEITE, Y. L. R., MENDES, S. L. & DITCHFIELD, A. D. Conservação de mamiferos do Brasil. Megadiversidade 1(1):103-112, 2005.

Um comentário :

Eduardo Real disse...

Muito bom o texto. É triste ver o descaso com a Mata Atlantica. Hoje falam muito em proteger a Amazônia, mas a população e a mídia se esquecem do Cerrado, da Caatinga e da Mata Atlantica. O desaparecimeno de seres vivos frágeis, como as rãs, é lamentavel!

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